Senhor Labão


O Senhor Labão nasceu em um lugar onde todos têm o corpo em forma de balão: a cabeça é oca e o corpo fino como um cordão – eles são os Laboneses. O mundo em que vivem é todo macio: árvores, casas, chãos, carros, prédios, portões... Tudo! Isto porque, caso existisse algo pontiagudo ou muito sólido, poderia destruir em dois segundos um Labonês, não sobraria um vivo e a Labolândia existiria por tão pouco tempo que nunca descobririam de sua existência. Mas, tudo é macio, graças à combinação perfeita entre ser e habitat.

Todo Labonês é cabeçudo e tem um laço gigante em seu pescoço, sendo da mesma cor da blusa que está vestindo. O laço serve para prender a cabeça ao corpo, pois a cabeça não está grudada ao corpo, afinal, eles são uma espécie de balão. Por este motivo, todo Labonês tem o corpo fino e comprido, como o fio de um balão.

O período de vida de um Labonês depende da qualidade do material de borracha que há em sua cabeça. Os mais pobres morrem mais cedo que os mais ricos, já que a qualidade do material é bem baixa – e vice-versa. Porém, a maneira como um Labonês morre é igual para todos. Ninguém morre de doença, suicídio ou assassinato. Essas coisas não existem na Labolândia. 

Todo Labonês morre da seguinte maneira: sentindo uma dor de cabeça profunda como se a cabeça fosse explodir, e, ela irá explodir. Pois, o material é desgastado com o tempo, até que, qualquer vento brusco exploda sua cabeça. Assim, quando o Labonês sente esta dor de cabeça profunda, já sabe que está para morrer. Então, se despede de todos e vai para a Ventonias, uma cidade que venta bastante de tempo em tempo. Para isso, o Labonês tem que marcar o horário que irá para lá, para chegar meia hora (no tempo dos laboneses) antes de começar uma próxima ventania. Chegando a Ventonias, o ser assina um contrato, espera morrer e é levado para seu caixão no cemitério da cidade onde nasceu. Claro, só os mais providos de dinheiro tem este privilégio. Os pobres morrem a todo o momento, e existem Laboneses especiais que cuidam todo o santo dia desses seres miseráveis que não tem onde cair morto. É muito comum você ver a cabeça de um labonês explodir na sua frente, ele provavelmente não tem dinheiro o suficiente para ir para Ventonias.

Os Laboneses são desprovidos de inteligência, já que sua cabeça é praticamente feita de vento. Porém, são muito emotivos e sentimentais. Brigam muito. Amam muito. Falam muito. Odeiam muito. Choram muito, e, por ai vai...

O senhor Labão é um Labonês que nasceu com uma anomalia. Ao contrário da mão macia que todos os Laboneses têm, a mão de Labão tem dedos de arame. Ele nasceu assim, não teve culpa. Foi tão anormal para a sociedade que não permitiram nomeá-lo com um nome bacana. Assim, da mesma forma que se chama um ser humano de humano, chamam um ser labonês de labão, e este é o nome do Senhor anormal. 

A sociedade tinha medo dele, nunca vira algo pontudo e sólido. Assim, ela o repugnou e o considerou perigo extremo para a sociedade. Portanto, quando Senhor Labão completou 7 anos labonês fora retirado de Labolândia – uma vez que com esta idade a mão de um Labonês se desenvolve por completo.

O pai de Labão, o Senhor Fios de Laçus tem um coração enorme. Seu coração é tão grande que aparece a forma do coração por debaixo da roupa. Talvez, um dos Laboneses com o emocional mais avançado de toda a Labolândia. Porém, não podia culpar a decisão da sociedade - apesar de ter chorado muito e gritado com todos. A Mãe de Labão, a Senhora Prins de Laçus, morreu de susto em seu parto ao ver seu filho anormal. 

Antes que Labâo fosse para fora de Labolândia, seu pai o ensinou a sobreviver. O ensinou a como não furar seu rosto para não morrer. Labão aprendeu muito bem as lições. Assim, ele anda sempre com um lenço nas mãos e outro no bolso para não machucar sua face.

Labão não é um ser malvado. Ele é bobo, e nunca compreendeu porque ninguém pôde amá-lo como seu pai o amou. Ele fala pouco e é muito expressivo. Adora plantas e tem um lindo jardim. Também adora pegar fruta com seus dedos em seu pomar. Aliás, outra das coisas que seu pai o ensinou foi que deveria gostar de fazer todas as coisas que suas mãos lhe ajudassem ao invés de atrapalhar. Assim, Labão direcionou seus gostos a isso. 

O senhor Labão vive sem ninguém... Quem sabe um dia ele encontre um ser bacana em seu jardim.